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Respiração e dor cervical: a relação que muitos desconhecem

dezembro 2025

Por FisioNunes

A dor cervical é uma das queixas mais frequentes em adultos, frequentemente associada ao telemóvel, ao computador, à postura no trabalho ou ao stress acumulado. Embora estes fatores tenham impacto real, existe um elemento essencial que passa despercebido à maioria das pessoas: o padrão respiratório. A forma como respiramos tem uma influência direta na ativação muscular da região cervical e, quando a respiração não é feita de forma eficiente, certos músculos do pescoço entram em sobrecarga constante, contribuindo para tensão, rigidez e dor persistente.

A respiração saudável deve ser maioritariamente abdominal, com o diafragma a desempenhar o papel principal. Contudo, muitos adultos desenvolvem um padrão de respiração superior, onde a inspiração depende excessivamente dos músculos acessórios do pescoço, como os escalenos, o esternocleidomastoideu, o elevador da omoplata e o trapézio superior. Estes músculos não foram concebidos para suportar o trabalho respiratório diário e contínuo, e a sua utilização excessiva resulta em aumento do tónus, diminuição da mobilidade cervical e sensação de fadiga muscular ao longo do dia. A longo prazo, esta sobrecarga altera o movimento natural das articulações cervicais e cria compensações posturais que intensificam ainda mais o desconforto.

Existem sinais claros de que a respiração pode estar a contribuir para a dor cervical: movimento exagerado dos ombros ao inspirar, rigidez matinal na zona superior das costas, sensação de peso no trapézio ao final do dia, dores de cabeça tensionais e dificuldade em relaxar os ombros mesmo em repouso. Estes indicadores demonstram que existe uma ativação respiratória desajustada, onde o diafragma tem uma participação reduzida e os músculos do pescoço assumem um papel que não lhes pertence.

Do ponto de vista fisiológico, quando o diafragma não é utilizado de forma eficiente, o corpo compensa imediatamente recorrendo aos músculos cervicais. Esta adaptação altera o equilíbrio entre respiração, postura e controlo motor, deixando a região cervical num estado permanente de esforço. O sistema nervoso mantém-se mais alerta, a musculatura torna-se hiperativa e sensível ao toque, e atividades simples — como trabalhar ao computador, conduzir ou falar durante longos períodos — tornam-se desencadeadores de dor.

A fisioterapia tem um papel determinante na correção deste padrão disfuncional. O processo começa com uma avaliação detalhada do padrão respiratório e da mobilidade costal, seguida de técnicas manuais que reduzem a tensão acumulada nos músculos acessórios. A intervenção inclui também reeducação respiratória, reforço dos músculos profundos do pescoço, treino de estabilização escapular e orientação postural para o dia a dia. Este conjunto de estratégias não só reduz a dor, como melhora a eficiência respiratória, aumenta a mobilidade cervical e promove um controlo motor mais equilibrado.

Um caso clínico frequente ilustra bem esta relação: uma paciente adulta, sem histórico de lesão cervical, apresentava rigidez diária, dor no trapézio superior e dores de cabeça tensionais recorrentes. Apesar de vários tratamentos temporários, os sintomas persistiam. Na avaliação fisioterapêutica identificou-se um padrão marcado de respiração superior, com escassa participação do diafragma e grande sobrecarga dos escalenos. Após algumas sessões de intervenção manual e reeducação respiratória, acompanhadas de treino específico para os músculos estabilizadores do pescoço e ombros, a paciente reportou diminuição significativa da dor, desaparecimento das dores de cabeça e maior sensação de leveza e estabilidade ao longo do dia.

Para além da intervenção clínica, existem pequenas estratégias que qualquer pessoa pode aplicar para reduzir a tensão cervical associada à respiração: inspirar lentamente pelo nariz focando o movimento no abdómen, realizar expirações mais longas do que as inspirações e manter os ombros descontraídos durante o processo. A repetição diária durante alguns minutos ajuda a diminuir a ativação excessiva dos músculos cervicais e promove um padrão respiratório mais eficiente.

Em suma, a dor cervical não está apenas ligada à postura ou ao uso prolongado de dispositivos digitais. Em muitos casos, a sua origem está no padrão respiratório e só melhora de forma consistente quando este é corrigido. Avaliar e compreender a forma como respira pode ser o passo que faltava para aliviar a dor e recuperar a mobilidade com segurança e estabilidade.

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